Tarifa branca de energia, vale a pena para mim? – Parte 1
Com a chegada de uma nova modalidade de tarifação para os consumidores residenciais, algumas dúvidas começam a surgir… O que significa essa nova forma de tarifação? Vou economizar se eu a aderir? Quanto? Vale a pena para mim?
Vou tentar nesta série de textos, explicar e exemplificar algumas questões que podem surgir com essa nova forma de tarifação.
A primeira coisa que devemos entender muito claramente é que forma de tarifação e bandeiras tarifárias NÃO são a mesma coisa (apesar de ambas as nomenclaturas usarem cores e os nomes serem muito parecidos).
A forma de tarifação é o custo “básico” da energia, podemos chamá-la de Tarifa de Energia (TE), que no momento, para o consumidor residencial, se dividirá em “tarifa convencional” e “tarifa branca”. Para consumidores de grande/médio porte existem outros tipos de TE (Tarifa de Energia), mas não vamos entrar nisso para evitar confusão. As TE são próprias de cada distribuidora (portanto, é algo muito regional), com isso a distribuidora da cidade de São Paulo pode ter uma TE diferente da que distribui para o Rio de Janeiro.
As bandeiras tarifárias são custos adicionais para a produção de energia. As bandeiras tarifárias são determinadas pela ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica (portanto, é algo em nível nacional) e elas têm relação com a ativação de termoelétricas. Basicamente quando entramos no período de estiagem, ou quando os reservatórios estão muito baixos, as bandeiras passam do verde (sem excedente e quase sem termoelétricas funcionando), para o amarelo, o vermelho patamar 1 e então o vermelho patamar 2 (mais caro, com muitas termoelétricas funcionando).
As bandeiras tarifárias são aplicadas após o valor da TE ter sido calculado, portanto, independentemente se você passar para a tarifa branca ou continuar na convencional, quando a ANEEL estipular que estamos em bandeira tarifária vermelha patamar 1, você vai continuar pagando o valor adicional por isso.
Nos próximos textos, vamos nos aprofundar um pouco mais no assunto, e entender a diferença entra a tarifa atual e a nova tarifa branca, como calcular se vale a pena ou não fazer a troca e algumas dicas e possibilidades de economia de gastos com energia.
Tarifa branca de energia, vale a pena para mim? – Parte 2
Agora que, com a parte 1 deste texto, entendemos que bandeiras tarifárias e forma de tarifação são coisas distintas, o que significa essa tal de “tarifa branca”?
Primeiro, vamos entender um pouco melhor o que é a forma de tarifação. Bom, como foi dito anteriormente a forma de tarifação, ou Tarifa de Energia (TE), é o custo “básico” da energia. Ou seja, é o valor que se multiplicarmos o seu consumo, dará o valor a ser pago pela geração da energia que você consumiu.
Para termos um entendimento de forma bastante simples, vamos fazer uma comparação com um carro. Se o seu carro faz 13 km/l, você sabe que com 10 litros você andará 130km. Se a tarifa de energia é 0,51 R$/kWh, você sabe que a cada kWh consumido você gastará R$0,51 de TE. Após os cálculos das tarifas, são adicionados os valores de impostos, das bandeiras, de multas e outros valores, dando assim o valor total da sua conta.
Mas qual a diferença entre tarifa convencional (a que estamos sujeitos hoje) e tarifa branca? A tarifa convencional é a mesma, independentemente da hora do dia. Já a tarifa branca vai variar conforme o momento do dia que estamos.
Para entendermos isso, devemos entender o que é “horário de ponta”, “horário intermediário” e “horário fora de ponta” e para isso vamos ver um gráfico fornecido pela ANEEL – Agencia Nacional de Energia Elétrica, na Nota Técnica n° 0056 de 24 de maio de 2017.
O gráfico é uma comparação entre a geração fotovoltaica média por hora do dia e o consumo médio por hora do dia do setor residencial. No momento estamos interessados em observar o gráfico laranja, que é o de consumo.
As horas que possuem o maior consumo (circulada de vermelho) é o que chamamos de “horário de ponta” (pois, está na “ponta” mais alta do gráfico de consumo). As horas que antecedem e procedem as de maior consumo (circuladas de amarelo) são chamadas de horário intermediário. As horas restantes (e finais de semana) são chamadas de “horário fora de ponta”.
Agora que sabemos o que são as divisões de horários, podemos entender melhor o que citamos a alguns parágrafos, quanto a tarifação convencional ser a mesma independente da hora e a tarifa branca variar. A tarifa convencional será igual independentemente de o consumo de energia ocorrer as oito da manhã (horário fora de ponta), as seis e meia da tarde (horário intermediário) ou as nove da noite (horário de ponta). Já a tarifa branca vai cobrar um valor X as oito da manhã (horário fora de ponta), um valor Y as seis e meia da tarde (horário intermediário) e outro valor Z as nove da noite (horário de ponta), sendo que Z é o mais caro, seguido de Y e X o valor mais baixo.
Nos próximos textos, vamos nos aprofundar um pouco mais no assunto, e entender como calcular se vale a pena ou não fazer a troca e algumas dicas e possibilidades de economia de gastos com energia.
Tarifa branca de energia, vale a pena para mim? – Parte 3
Agora, com as partes 1 e 2, já temos uma bagagem de conhecimento suficiente para começarmos a realmente avaliar se a transição para tarifa branca vale a pena ou não para você. Para isso vou inicialmente usar um simulador fornecido pela Enel (Empresa de Distribuição de Energia para a cidade de São Paulo), com isso adicionando mais alguns conceitos importantes, e então vou explicar os cálculos e como você pode fazer isso sem o simulador, com papel, caneta e uma calculadora, ou com uma planilha do Excel.
Primeiramente, então, vamos ao simulador no link abaixo:
https://www.eneldistribuicaosp.com.br/simulador-tarifa-branca/Paginas/inicio.aspx
A página inicial do simulador é esta, com algumas informações sobre o procedimento de preenchimento, sobre quem pode aderir ou não, sobre a metodologia de cálculo, e inclusive o que falamos anteriormente sobre as bandeiras, impostos e outras taxas serem um valor adicional, separado do que se refere a tarifa branca ou convencional.
Então, você escolhe o tipo de imóvel que pretende simular, seja ele residencial, comercial, industrial ou rural. Assim que você escolhe o perfil do imóvel, a página pede para adicionar os aparelhos que consomem energia elétrica, seus horários de funcionamento e sugere uma potência mais comum (mas, que pode ser modificada). Como vemos na imagem a seguir podemos filtrar os equipamentos por ambiente e adicioná-los gradativamente ou podemos ter todos os equipamentos e adicioná-los de uma vez, não faz diferença.
A seguir temos a tela de adição de um equipamento genérico (que é equivalente a tela de adição de qualquer outro equipamento, como veremos) onde podemos adicionar a potência do mesmo ao clicarmos em “alterar potência”, modificar a quantidade deste aparelho em seu imóvel e o perfil de uso (quando começa a ser utilizado, quantas horas fica ligado e quantos dias por semana). O perfil de aparelho genérico pode ser utilizado caso você possua algum equipamento que não está na lista. Vou simular minha residência para fins ilustrativos.
A seguir temos o exemplo de uma tela que estou adicionando lâmpadas a minha simulação (estou adicionando por ambiente e neste caso, pensando em uma sala), definindo o tipo (lâmpada LED – 9W), a quantidade e o perfil de uso.
A seguir, mantendo o pensamento em montar a sala, adiciono uma TV, mas com um perfil de uso um pouco diferente, usando o botão “Mais um horário” para dizer que a TV está ligada apenas durante a manhã e no final do dia.
A seguir, adiciono um micro-ondas (agora pensando na cozinha), mas meu equipamento possui uma potência diferente dos 1200W que o site fornece como base, o meu equipamento é de 1400W, portanto eu vou em “Alterar Potencia” e modifico o valor.
Continuo adicionando alguns equipamentos até ter a lista completa de equipamentos da minha residência adicionada e com isso, teremos a seguinte tela:
Dando um total de aproximadamente 166 kWh de consumo (minha conta anterior foi de aproximadamente 140kWh, uma diferença de quase 20%, mas que para esse tipo de simulação está bom).
Com isso podemos encerrar a simulação e ter o resultado:
Ou seja, para mim é mais vantajoso continuar na tarifa convencional. A diferença entre valor está muito pequena (apenas R$1,04) e considerando ainda a diferença de quase 20% entre consumo simulado e real que citei, provavelmente a mudança, no meu caso, ou realmente não seria uma boa escolha, ou seria pouco efetiva. O “vilão” no caso desta simulação foi o horário intermediário onde consumi aproximadamente 36kWh, se eu conseguir ou diminuir este consumo, ou deslocar o máximo possível de consumo para o período fora de ponta, eu veria uma economia na adoção da bandeira branca. Mas falaremos de estratégia de economia depois, no momento quero explicar como os cálculos são feitos.
O cálculo na realidade é bem simples sendo a multiplicação das horas de uso, pelos dias de uso, pela quantidade de equipamentos e pela potência dos equipamentos. Ou seja:
Após o cálculo do consumo, multiplicamos o consumo pela tarifa para encontrarmos o valor, ou seja:
Se quisermos fazer isso em casa, podemos fazer o seguinte:
– Verificar e anotar quantos equipamentos de um determinado tipo eu tenho (por exemplo se perguntar “quantas lâmpadas de mesma potência eu tenho? ”). Importante, se eu tenho 5 lâmpadas LED de 9W e mais 5 Fluorescentes de 15W, devemos considerar equipamentos diferentes para os cálculos, pois as potências são diferentes (uma é de 9 Watts e a outra de 15 Watts)
– Verificar e anotar a potência dos equipamentos que contamos anteriormente. Não podemos confundir potência (medida em Watts (W) ou quilowatts (kW)) com tensão (medida em Volts, para residências, normalmente 110V ou 220V). A potência dos equipamentos está escrita neles, em alguma fichinha adesivada, ou no manual. A seguir algumas imagens de equipamentos da minha casa, para exemplificar:
- Televisão (53W):
- Microondas (1400W):
- Ferro de passar (1200W):
- Lâmpada (9W):
– Verificar com a concessionária de energia que atende sua região quais serão as tarifas de ponta, intermediárias e fora de ponta e quais os horários de cada um desses segmentos.
– Verificar e anotar o perfil de uso, quantas horas usamos cada equipamento e quantos dias por semana o fazemos. Lembrar que os finais de semana são considerados fora de ponta a qualquer hora. Segmentar o perfil de uso em quantidades de horas fora de ponta, quantidades de horas intermediárias e quantidades de horas de ponta.
Agora já temos todos os dados necessários e é só os multiplicar (utilizarei FP para fora ponta, I para intermediário e P para ponta) e fazer isso para todos os tipos de equipamentos:
Todos esses cálculos podem ser feitos com uma caneta, papel e calculadora ou com a ajuda de uma planilha do Excel. E é basicamente isso que o simulador da Enel faz também, inclusive ele nos apresenta o consumo e os valores em dinheiro de cada período do dia (ponta, fora de ponta e intermediário). Para locais com mais equipamentos e equipamentos mais complexos, é recomendável a contratação de consultorias especializadas que fazem esse tipo de avaliação, mas a metodologia de cálculo é essa.
Agora que já sabemos os cálculos, vamos a ver como fazer a comparação. Para isso devemos calcular o custo com a tarifação branca e o custo com a tarifação convencional e então avaliar qual é menor. E isso é muito simples, pois os cálculos são exatamente iguais, a diferença é que para a tarifação branca, as tarifas de fora ponta, intermediária e ponta são diferentes e para a tarifação convencional é a mesma tarifa, independente do horário. O menor custo (e a diferença entre eles) são os fatores que te farão querer mudar ou não de tarifa.
Lembrar também que para fazer a mudança é necessário entrar em contato com a concessionária de energia da sua região para que ela vá a seu imóvel e mude seu relógio de medição. E que caso você perceba que a mudança não foi uma boa ideia, é possível pedir para retornar a tarifa convencional após 30 dias.
No próximo texto, vamos nos aprofundar um pouco mais no assunto, e ver algumas dicas e possibilidades de economia de gastos com energia.
Tarifa branca de energia, vale a pena para mim? – Parte 4
Agora que com os três textos anteriores obtivemos conhecimento suficiente para avaliarmos a viabilidade da troca de tarifa, vamos falar um pouco sobre estratégias de economia, pois é possível que mesmo que em um primeiro momento não seja uma boa ideia fazer a mudança, com algumas mudanças de hábitos e outras formas de economia, se torne algo viável.
Agora falando das estratégias para diminuição de custo, podemos tanto adotar medidas de diminuição de consumo (para tarifação convencional ou branca) ou medidas que se aproveitem da diferença de valores nas tarifas (apenas para a tarifação branca, que apresenta tal diferença). Essas medidas, no geral, podem ser chamadas de medidas de eficiência energética.
Economia do consumo de energia é sempre uma boa ideia, tanto para nossos bolsos, quanto para o planeta e para a sociedade. Para nossos bolsos é bastante óbvio, mas para o planeta e para a sociedade pode ser um pouco menos claro. Para a natureza, na realidade brasileira, quanto menos energia consumirmos, como país, menos precisaremos da ativação de termoelétricas e emitiremos menos gases de efeito estufa e gases nocivos (o que também impactaria nos nossos bolsos, pois diminuiria a incidência de bandeiras tarifárias). Já para a sociedade, com a diminuição do consumo como país, pode-se diminuir o custo de produção e distribuição de energia, possibilitando que uma faixa de menor renda tenha um impacto menor deste custo.
Falando mais a fundo sobre algumas estratégias de diminuição de consumo, que são aplicáveis para ambos os tipos de tarifação, podemos citar como as mais comuns e simples de serem aplicadas a mudança de equipamentos para novos, mais econômicos, e a identificação e eliminação de desperdícios.
A mudança de equipamentos é bastante clara e é simplesmente trocarmos um equipamento antigo por um novo que consuma menos energia e entregue a mesma qualidade no uso. Ou seja, podemos trocar uma lâmpada fluorescente de 22W por uma LED de 10W, onde ambas entregarão a mesma capacidade de iluminação, mas a LED consome menos da metade da energia da florescente. O que devemos tomar cuidado é para não trocarmos um equipamento por outro que consome menos, mas que também entrega uma capacidade menor (a não ser que intensifiquemos um desperdício, que vamos falar a seguir)
Os desperdícios podem tanto ocorrer no padrão de uso, quanto no “tamanho” de um equipamento. No padrão de uso o exemplo mais simples e claro disso é deixarmos lâmpadas acesas durante o dia em ambientes iluminados pelo sol. Ou até mesmo o excesso de iluminação, mas isso é uma medida mais complexa e deve ser feita por quem tem conhecimentos técnicos para isso. O desperdício no “tamanho” de equipamentos é quanto um equipamento é potente de mais para o que ele é utilizado, por exemplo (muito exagerado) um ar-condicionado de 30000 BTUS em um quarto de 20 metros quadrados. A eliminação quanto a padrões de uso ocorre na mudança de hábitos (desligar as lâmpadas, no exemplo dado) e quanto ao tamanho, ela ocorre na troca de um equipamento para um bem dimensionado, algo que deve ser feito por quem tem conhecimentos técnicos para isso.
Mas, se estivermos falando da tarifação branca, uma outra medida de redução de custo (mas não necessariamente de consumo) é deslocarmos o consumo de energia para os horários fora ponta. Ou seja, deixarmos para fazer coisas que são intensivas no uso de energias nos finais de semana, durante a manhã/tarde, ou no final da noite (após as 22h). Como exemplo, usando o simulador da Enel, podemos calcular a diferença na mudança do uso de um chuveiro, por 20 minutos no horário ponta e no intermediário (mas a lógica seguiria a mesma se compararmos ao fora de ponta).
- Perfil no horário de ponta:
- Já em um horário intermediário:
Uma economia de aproximadamente 8 reais por adiarmos o banho em uma hora (adotando a tarifa branca, já que na tarifa convencional o custo é o mesmo independente do horário).
Existem outra medida de eficiência energética, que vão desde a divisão de circuitos, a colocação de barreiras à entrada de luz e de calor, variadores de frequência até a automação de algumas tarefas, mas esses tipos de estratégias mais avançadas devem ser pensadas e implementadas com a ajuda de consultores especializados em eficiência energética.
Com isso, encerramos esta série de 4 texto que nos ajuda a entender se a mudança na forma de tarifação é benéfica ou não para nós e onde também abordamos algumas medidas para economizarmos energia. Agradeço a todos que pela leitura.