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Lean Energy: A gestão e a eficiência energética sob o prisma da melhoria

 

Primeiramente, deve-se alinhar sob qual ótica serão feitas as observações sobre o tema, já que a melhoria contínua é um tema extremamente vasto e de várias vertentes, ferramentas e metodologias. Para esta análise o foco será no Lean 6-Sigma, uma conhecida abordagem de melhoria contínua e de gestão de processos, comumente utilizada em indústrias para a melhoria e conformidade de seus produtos e processos às demandas de seus clientes internos ou externos.

Nos próximos parágrafos, será argumentado, entretanto, que a forma de se pensar do Lean 6-Sigma e de algumas ferramentas pode ser extrapolada para a eficiência e gestão energética de maneira quase intuitiva e com muita efetividade.

Alinhando conceitos

A filosofia Lean é oriunda do STP (Sistema Toyota de Produção) e se baseia em 5 princípios visando eliminar desperdícios, sendo que o Lean lista 8 arquétipos de desperdícios. Estes princípios consistem na especificação do que é “valor” sob a visão do cliente (Valor), no alinhamento das atividades na sequência que gerem o máximo deste “valor” (Fluxo de Valor), realizando essas atividades de forma contínua, sem gargalos ou atrasos (Fluxo Contínuo) e evitando, se possível eliminando, o acúmulo de “valor” parado ou estocado (Produção Puxada) e de maneira cada vez mais eficaz (Perfeição). Dentro deste último ponto está a metodologia 6-Sigma de melhoria contínua, formando o Framework do Lean 6-Sigma. 

Uma ferramenta muito utilizada dentro do 6-Sigma é o DMAIC, acrônimo para “Define, Measure, Analyze, Improve e Control” (Definir, Medir, Analisar, Melhorar e Controlar), uma sequência de ações de nome autoexplicativo que visa, dentro de um ciclo composto por elas, gerar uma melhoria no aspecto que se decidiu utilizar tal ferramenta. Como outras ferramentas aplicadas na melhoria contínua, ao final de cada ciclo DMAIC, pode-se (e deve-se) aplicá-la novamente para obter-se a melhoria contínua de processos e produtos.

Outro conceito necessário de se estabelecer é o de eficiência energética. A eficiência energética consiste em entregar um mesmo resultado de uma determinada ação ou processo gastando menos energia. O resultado de um processo não deve ser afetado. Se alguma ação resulta em uma interferência no resultado, não é eficiência, mas sim corte. Em uma metáfora, a eficiência energética não é necessariamente sobre “apagar uma lâmpada”, mas sim “apagar uma lâmpada que não precisa estar acessa”. Figuras de linguagem a parte, é nesse ponto que a ligação com o Lean 6-Sigma já começa a se mostrar clara.

A ligação

A partir desta definição de eficiência energética, fica implícito que o principal objetivo de a buscar é reduzir desperdícios na forma que se consome a energia, seja ela elétrica ou não, mantendo a qualidade do produto ou processo envolvido; mas, para ter reais ganhos, é interessante ter em mente o fluxo do Lean. É necessário entender qual é a necessidade do cliente, o que ele entende como valor dentro da eficiência energética, se é apenas reduzir os custos com energia ou se é algo a mais, como a avaliação de outras fontes de energia para ser mais sustentável ou ainda outras vertentes.

A partir disso, deve-se entender quais os processos envolvidos e que consomem energia, como eles podem se relacionar e como eles podem ser modificados sem romper as premissas de valor do cliente, garantindo a segurança operacional e evitando interrupções ou entraves em processos, buscando medidas de eficiência energética para reduzir o “acúmulo” de energia em ineficiências. Ao seguir todos esses passos e os fazendo de forma cíclica, pode-se chegar num estado otimizado do consumo energético: a eficiência energética.

Para entender e mapear consumos e medidas de eficiência, ou seja, o fluxo de valor e aquilo que leva ao processo puxado, é necessária a realização de diagnósticos energéticos que podem ser vistos sob um escopo do DMAIC.

DMAIC e a energia

O diagnóstico energético e a gestão energética têm, em seu esqueleto, a melhoria contínua. Não é à toa que, dentro da ISO 50001 (norma internacional de gestão energética), há estampado um ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act).

Pode-se, todavia, quebrar a estrutura do diagnóstico e a forma de se pensar dentro dos passos do DMAIC. Tal qual esta ferramenta, no diagnóstico, é necessária a definição de premissas e fronteiras de onde ele ocorrerá, ou seja, a definição do problema. Então, é necessária a realização de uma medição nos índices de consumo atuais, quais são as fontes de energia utilizadas, como elas se distribuem e quais os usos da energia. Com essas medições, começa-se a entender o consumo em si, assim como as possibilidades de economia.

As possibilidades encontradas serão estudadas, avaliadas e calculadas dentro da próxima fase, a “análise” no DMAIC. Aqui, é de extrema importância que as medidas estejam alinhadas com o que é “valor” para o cliente. Neste ponto, o diagnostico energético termina, mas ainda se segue com as fases da ferramenta.

Agora que já se entendeu todas as oportunidades de economia, calculou-se seus impactos e avaliou-se suas consequências, pode-se propor a implementação de melhorias que podem requerer desde ações simples, como campanhas de conscientização, a projetos inteiros de retrofit de equipamentos. Então, realiza-se o controle da eficácia das medidas implementadas através da gestão energética, em que, mais uma vez, ferramentas muito presentes no 6-Sigma podem ser utilizadas, como o CEP (Controle Estatístico de Processos) para detecção de anomalias na entrega da energia.

Conclusão

A eficiência energética e aquilo que ela envolve estão umbilicalmente ligados aos conceitos de melhoria contínua e da filosofia Lean. Isto está na estruturação das normas que lidam com a eficiência energética e no próprio conceito da eficiência.

O 6-Sigma, também, é uma metodologia extremamente robusta e profunda que, neste texto, apenas citou-se alguns de seus elementos, mas poderiam ser utilizados outros em outras análises. Por exemplo, o SIPOC (outro acrônimo de “Supplier, Input, Process, Output e Costumer”) para mapear cada processo consumidor de energia, ou ferramentas estatísticas para avaliar a efetividade de medidores de energia e de representatividade de resultados.

Por fim, espera-se ter demonstrado a robustez e universalidade de conceitos como a mentalidade Lean e de ferramentas como o 6-Sigma que, além de usos “clássicos” de processos e produção, podem ser utilizados nas mais diversas abordagens, como a análise da energia, ou Lean Energy.

 

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Gabriel
Gabriel
3 anos atrás

Conteúdo crítico e de muita qualidade.

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