Eficiência Energética ou Mercado Livre de Energia?

"O mercado livre e a eficiência energética se complementam. Enquanto o primeiro reduz o preço do kWh, o segundo reduz a quantidade de energia comprada", afirmam especialistas.

Por: Arthur Cursino

nov. 18, 2016

Eficiência Energética

Atualmente, a migração para o mercado livre é vista como uma forma atraente de reduzir os custos de energia. Desde 1995, quando foi criada, até os dias de hoje, a adesão dos grandes consumidores – indústrias, compras, varejos, grandes edifícios comerciais – ao sistema livre de compra e venda de energia elétrica só tem crescido.

Segundo a ABRACEEL, Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia Elétrica, mais de 60% da energia comprada pelas indústrias é negociada no ambiente de contratação livre (ACL). Em 2015, mais de 700 companhias industriais passaram a negociar diretamente na compra de eletricidade. Hoje, cerca de 4.000 empresas estão no mercado livre, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Há ainda mais de 1000 empresas em processo de migração,

A razão para isso é simples. Como a contratação é feita diretamente entre consumidores e produtos de energia, é possível negociar tarifas menores e previsíveis, redução do custo por kWh e a exposição ao risco.

Em muitos casos é aplicado um desconto sobre outros componentes que compõem a conta de energia, tais como a Demanda e o TUSD (Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição), resultando ainda mais a fatura.

O contrato no ACL é complexo e traz custos adicionais que precisam ser explicados e conhecidos como iremos em outra matéria. Segundo a ABRACEEL, com o mercado livre é possível chegar a até 47% em relação ao mercado cativo.

Sabe-se que o consumo de energia é um dos recursos mais custosos para a indústria e muitas grandes empresas. Por isso, quem consegue comprar por um preço mais baixo e utilizá-la de maneira mais eficaz adquire uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes.

Entretanto, apesar de ser uma excelente alternativa para redução de custos, esse sistema nada tem a ver com o uso eficiente da energia: mesmo que haja economia na conta no fim do mês, ela é apenas em função da redução do valor da tarifa final.


Eficiência energética + redução do custo do kWh = Economia²


A redução do custo do kWh já pode ser considerada uma grande vitória para empresas inseridas no mercado livre. Mas é possível alcançar ainda mais expressivos resultados ao reduzir o consumo eficaz. Para isso, deve-se ter um plano de gestão de energia, que foca em oportunidades de redução do consumo de energia.

Tipicamente, empresas e setores avaliam primeiramente de retrofit de equipamentos. Dentre eles estão instalados sistemas de iluminação mais eficientes, motores mais modernos, etc.

Todas essas medidas são válidas, mas são em geral custosas e exigem investimentos. Há muitas oportunidades de baixo custo que contribuem para a eficiência energética e que são na maioria das vezes negligenciadas. Medidas como alterações de procedimentos operacionais, melhorias nos sistemas de automação, manutenção de componentes defeituosos, reaproveitamento de energia rejeitada normalmente geram economia significativa com pequenos investimentos. Contar com uma equipe de gestão energética bem treinada é também uma ação importante, ainda pouco aplicada no Brasil.

Apesar de parecerem simples, frequentemente essas oportunidades passam despercebidas no dia-a-dia. Ou até são notadas, mas não são implantadas por falta de tempo e de pessoal. Por isso, há especialistas e empresas de consultoria energética cujo objetivo é implantar sistemas de gestão de energia e auxiliar na identificação e implantação de projetos de eficiência.


A ordem dos fatores altera o produto


Suponhamos que alguém comece a fazer uma dieta e no mesmo dia encontre uma loja de roupas com preços ótimos. É melhor esperar a dieta fazer efeito para poder comprar um tamanho menor, certo? Caso contrário, ela terá comprado uma roupa barata, mas terá sido um desperdício, pois a roupa ficará grande demais.

Podemos fazer um paralelo à migração para o mercado livre. A maioria dos contratos contém uma cláusula conhecida como take or pay. Nela, o contratante fica obrigado a pagar por uma quantidade mínima de energia.

Na prática isso significa que, se uma empresa reduz seu consumo após assinatura do contrato, ela não pode ter uma redução de custos correspondente. Dessa forma, você terá “desperdiçado” a chance de fazer uma excelente compra.

Por esse motivo, por meio de projetos de otimização de energia, a eficiência deve vir primeiro. Depois que boa parte do potencial de economia para a prosperidade, vale a pena voltar à mesa de negociação para migrar para o mercado livre. Assim, será possível negociar um contrato muito mais vantajoso, que permitirá o aproveitamento financeiro de toda a economia energética obtida.

Desta forma, a migração para o mercado livre e a gestão de energia podem “andar de mãos dadas”. Ambos podem reduzir o custo e o consumo de energia, desde que sejam feitos na ordem certa. Primeiro, implante ações de eficiência energética e depois avalie a contratação no mercado livre.

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