EDGE: a certificação pela qual o Brasil estava esperando?

O que é a certificação EDGE?

Específico para o mercado emergente e já disponível em 130 países, o sistema EDGE, Excellence in Design for Greater Efficiency, é um programa de certificação de edificações desenvolvido pelo IFC, membro do Grupo Banco Mundial, que visa melhorar a eficiência em recursos do projeto e desmistificar a construção sustentável. O EDGE é composto por um software que roda em uma plataforma web, uma norma e um sistema de certificação de sustentabilidade. O software pode ser acessado gratuitamente e permite a avaliação de um projeto de construção de acordo com uma linha de base, considerando e calibrada ao país em questão. Para atender ao requisito mínimo de certificação, estabelecido pela norma EDGE, o projeto precisa demonstrar uma redução de 20% no consumo de energia, água e energia embutida em materiais, em relação à linha de base.

Além de permitir o cadastro de seu projeto e submetê-lo ao ente responsável pela certificação, o software permite a avaliação de diferentes tecnologias de construção sustentável, considerando o custo incremental de investimento, as economias no período operacional, e identificando, assim, as tecnologias com melhor retorno para aquele projeto. “Avaliar a previsão de tecnologias ou estratégias construtivas nunca foi tão fácil. Ao invés de gastar dias fazendo simulações energéticas, é possível ter uma visão do desempenho do projeto em, literalmente, alguns minutos.” – Diz Maxine Jordan, uma das 3 primeiras Auditoras EDGE no Brasil.

O programa está atualmente disponível para construções novas e existentes de usos comerciais (escritórios e lojas de varejo), educacionais, habitacionais, de saúde e de hospedagem (hotéis).

Qual é o passo a passo da certificação EDGE?

1. Definição da linha de base

Através da plataforma online, o usuário preenche uma série de informações básicas sobre o projeto, incluindo: tipologia; localização geográfica; área; quantidade de andares; número previsto de ocupantes, orientação solar, existência de condicionamento artificial, dentre outras. Baseado nestes dados de entrada, é criado um edifício de referência que servirá como linha de base para comparação com o edifício avaliado. O consumo anual de energia do edifício de referência será calculado através de um método de modelagem estado quase estacionário¹ baseado na norma ISO 13790 e na norma Europeia CEN. Seu consumo é definido pelos dados de entrada do usuário, eficiências de equipamentos e envoltória, com base em normas e técnicas de construção brasileiras, de modo que ele representa um edifício típico do país.

¹ A modelagem estado quase estacionário fica entre a modelagem estado estacionário que considera apenas um momento de operação (no pior dia) e a simulação dinâmica que considera o desempenho ao longo do ano.

2. Seleção das medidas de eficiência em energia, água e materiais

Alguns campos de entrada são de preenchimento obrigatórios, tais como a proporção do vidro na fachada, a transmissão térmica das paredes e cobertura, e a eficiência (COP) do sistema de ar condicionado. Em seguida, o usuário seleciona medidas a serem incluídas no projeto a partir de um “cardápio” de medidas.

Algumas opções neste menu são: iluminação LED, alta refletância das paredes ou cobertura, variadores de frequência em sistemas de ventilação, inclusão de geração de energia renovável, instalação de arejadores nas torneiras etc. Também são fornecidas orientações técnicas abrangentes sobre cada medida.

Com relação aos materiais, o usuário define aqueles empregados em diferentes elementos construtivos tais como lajes, cobertura, paredes etc. A redução da energia embutida no material é, então, estimada com relação à linha de base, já calibrada com as técnicas de construção locais.

3. Cadastro e certificação

Uma vez que o edifício avalie um percentual de redução de consumo de pelo menos 20% para cada um dos recursos (energia, água e materiais) em comparação com a linha de base do edifício de referência, ele poderá buscar uma certificação. O processo tem início com o cadastro do projeto previamente salvo e avaliado no programa EDGE. Um auditor EDGE deve, então, ser contratado para a realização de uma auditoria de projeto, de modo a verificar todos os dados declarados. Em seguida, após atestada a conformidade, emite-se uma certificação preliminar (no caso de edifícios em fase de projeto). A certificação final EDGE é emitida após a verificação de conformidade do edifício construído.

Todo o processo, desde cadastro, avaliação, e construção de evidência do edifício, pode ser realizado pela própria equipe de projeto. Também é possível contratar uma consultoria com profissional especializado (EDGE Expert) para apoiar todos os procedimentos relativos à obtenção da certificação.

Por que mais uma? Qual o diferencial da certificação EDGE?

O EDGE nasceu da necessidade de uma forma legítima, validada, simples, barata e acessível de considerar a construção sustentável e direcionar as tomadas de decisões. Esta necessidade é evidenciada pelo alto custo e complexidade dos programas de certificações tradicionais.

Um dos seus principais diferenciais é a disponibilização de uma plataforma online e gratuita, de fácil acesso e utilização, e que pode fornecer informações balizadoras para a concepção de edifícios mais eficientes e sustentáveis. Desta forma é possível identificar facilmente as medidas com impactos ambientais e econômicos mais importantes, garantindo que o capital de investimento seja mais bem aproveitado e que o mercado da construção sustentável seja acessível a todos.

É uma ferramenta poderosa de tomada de decisão de projeto, auxiliando o processo ao identificar quais medidas têm o maior impacto e melhor retorno financeiro. Desta forma, é garantido que o capital de investimento seja melhor aproveitado, e que o mercado da construção sustentável seja acessível a todos.

Quanto custa?*

O cadastro do projeto para certificação custa $USD 300.

A certificação tem custo diferente dependendo do Certificador escolhido. Atualmente no Brasil há a opção de certificação pelo GBCI ou pela SGS/Thinkstep.

O custo das auditorias também depende do órgão Certificador escolhido. Pelo GBCI, os preços de auditoria são negociados diretamente com o auditor.

Há também como contratar-se um EDGE Expert para auxiliar com o processo e com a construção de documentação. O EDGE Expert pode ser contratado diretamente da lista de profissionais acreditados pelo IFC.

*Valores e procedimentos referentes aos anos de 2017 e 2018. Atualmente (2019), para verificação de custos de certificação é preciso solicitar uma cotação por meio de formulário disponível no site do sistema EDGE.

O EDGE no Brasil

O EDGE tem grande potencial de crescimento no Brasil no que diz respeito ao estímulo ao mercado de construção sustentável. Estudos de equivalência de avaliação de desempenho energético pelo EDGE e pelo método do PBE Edifica mostraram que um edifício comercial que atende à norma EDGE teria um consumo de energia 10% menor (ou seja, melhor) do que um edifício com etiqueta Nível A pelo PBE Edifica. Assim, projetos com certificação EDGE tendem a apresentar também ótimo desempenho pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem de Edifícios (PBE Edifica).

Com os chamados de reaquecimento do mercado de construção no Brasil, amplia-se a oportunidade de implementar essa poderosa ferramenta. Com a capacitação de novos EDGE Experts e Auditores pelo GBCI, uma nova página da construção civil, mais limpa e de alta eficiência se faz mais evidente e acessível.

Cadastre-se grátis e veja a ferramenta em ação: Cadastro Edge Buildings

(publicado em 7 de outubro de 2017, atualizado em julho de 2019)