As formas de produção de hidrogênio

Por: Ana Beatriz Pereira Santos

fev. 02, 2023

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Eficiência Energética

É cada vez mais evidente que o mundo está sofrendo com as mudanças climáticas, apresentando temperaturas cada vez mais extremas, desastres naturais cada vez mais fortes e frequentes. Esses efeitos negativos advêm da poluição produzida há séculos pela humanidade como, por exemplo, a emissão ininterrupta de gases do efeito estufa através do uso de combustíveis fósseis.

Gases de Efeito Estufa (GEE) são um grupo bastante amplo, mas o mais abundante é o gás carbônico (CO2) e ele é utilizado como fator de proporção para outros. Por exemplo, uma tonelada de metano tem o mesmo efeito na atmosfera que o efeito de aproximadamente 20 a 25 toneladas de gás carbônico, portanto é aqui que o potencial de efeito estufa do metano é de 20 a 25 tCO2e (toneladas de gás carbônico equivalente). para uma descarbonização em massa até os anos de 2030 e com foco em zerar as emissões de carbono equivalentes até 2050.

Para alcançar tais objetivos é necessário compreender a transição energética, que trata de uma mudança de paradigma envolvendo a geração, consumo e reaproveitamento da energia, principalmente ao considerar que a geração de energia em suas mais variadas formas é responsável por grande parte das emissões de GEE mundiais.

Esse conceito parte da proteção de matrizes energéticas, como combustíveis à base de carvão ou petróleo, para fontes de energia renováveis, como solares, hidrelétricas, eólicas e de biomassa. Essa transição energética também se estende para a eficiência energética, digitalização, meio ambiente, gestão de resíduos e outros meios, de modo que seja atingido o objetivo comum de redução das emissões de GEEs.

Neste contexto, o hidrogênio (H2) produzido por meio de processos de baixa ou nula emissão de CO2 surge como uma alternativa de fonte de energia capaz de descarbonizar os conhecidos como produtores intensivos de GEEs, liberados na queima dos combustíveis fósseis, como ocorre, por exemplo, nas indústrias do cimento e do aço.

Apesar do H2 não é uma substância desconhecida e já foi amplamente utilizada em diversos processos, sua utilização como alternativa de descarbonização é fundamentada na possibilidade de obtenção de molécula por meio de energia renovável, bem como visto de seu uso, sem que haja emissão de gases poluentes, que, por exemplo, a combustão do hidrogênio libera apenas Água (H2O) e Oxigênio (O2). No entanto, ainda é necessário evoluir nos processos de produção, transporte e armazenamento do H2, considerando tanto aspectos de segurança quanto de previsões técnicas e econômicas.

O processo de produção de hidrogênio pode ser dividido em três grandes rotas: eletrolítica, térmica e fotolítica, sendo dividido em sete processos principais, fornecendo a vários recursos, tanto de biomassa, quanto os fósseis. Os processos que utilizam combustíveis fósseis incluem reforma (oxidação parcial, reforma a vapor e oxidação parcial e reforma autotérmica) e pirólise de hidrocarbonetos.

Já os processos de produção a partir de recursos renováveis podem ser classificados de acordo com a matéria-prima: biomassa ou água. Os processos que utilizam biomassa podem ser divididos em duas subcategorias: termoquímicos e biológicos. O primeiro envolve pirólise, gaseificação, combustão e liquefação da biomassa, enquanto os principais processos biológicos são biofotólise, fermentação no escuro e fotofermentação. A segunda categoria de tecnologias renováveis envolve a produção de hidrogênio a partir da água, por meio de processos de eletrólise, pirólise (termólise) e fotólise (decomposição fotoeletroquímica).

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Fonte: Créditos Fiscais de Investimento para Armazenamento de Hidrogênio (Recursos para o Futuro, 2020)



Dependendo da rota de produção do hidrogênio, este é categorizado em núcleos de acordo com suas características. Ainda não existe um consenso no que se refere a esta categorização, no entanto, algumas classificações estão sendo amplamente divulgadas por instituições como IEA, EPE, Hydrogen Council, etc, podendo ser resumidas conforme abaixo:

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Fonte: Adaptado de Bases para a Consolidação da Estratégia Brasileira do Hidrogênio (EPE, 2021)



Hidrogênio Marrom/Preto


Produzidos a partir da gaseificação do carvão mineral (lignito/hulha – hidrogênio marrom, antracito – hidrogênio preto) sem captura, utilização e sequestro do dióxido de carbono do processo.

O Lignito tem em sua composição bastante matéria volátil, isso torna sua mais fácil a conversão para um gás e para produtos petrolíferos do que alguns carvões que apresentam uma qualidade melhor. Porém, sua alta umidade e suscetibilidade de entrar em combustão espontaneamente causa problemas de transporte e armazenamento, o que torna seu uso mais difícil, fazendo com que as empresas que utilizam essa biomassa estejam, geralmente, localizadas perto da área de mineração desse material. O ponto importante é que pela alta umidade e o pouco poder calorífico do Lignito, como emissões de dióxido de carbono são geralmente muito maiores por megawatt (energia potencial) gerado em comparação com carvão preto e carvões “superiores”.

O antracito é criado por metamorfismo e está associado às rochas metamórficas, da mesma forma que o carvão betuminoso (turfa compactada) é associado às rochas sedimentares. O antracito libera alta energia por quilo e queima limpidamente com pouca fuligem, também usado como um filtro médio, o que o torna uma variedade de carvão mais procurada e desta forma de valor mais alto. O carvão fóssil mineral foi formado pelos restos soterrados de plantas tropicais e subtropicais, especialmente durante os períodos Carbonífero e Permiano.

O processo de gaseificação ocorre quando fontes de carbono, no caso do carvão mineral, são expostas ao ar, ou oxigênio puro, e vapor de água em um vaso de pressão a temperaturas altíssimas (mais de 1800°C) e pressão. Essas altas pressões e temperaturas fazem com que diversas reações ocorrem gerando uma mistura de gases chamados gás de síntese, geralmente com monóxido de carbono (CO) e hidrogênio (H2) em maior abundância, além de cinzas e escória em processos que utilizam fontes minerais. É possível aplicar um processo de reforma por vapor, como o que será descrito no hidrogênio cinza a seguir, para converter o CO, que é altamente nocivo, em CO2.


Hidrogênio Cinza


Esse hidrogênio em questão é produzido a partir da reforma de gás natural ou carvão sem CCUS (captura, utilização e sequestro de carbono). Essa forma de produção libera grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global e mudanças climáticas.

A reforma do gás natural, composta em sua maior parte por metano (CH4), inicia com o gás adentrando em um reator e recebendo uma pré-filtração para a retirada do incêndio. Então, o Metano com a ajuda de uma descoberta, reage com vapor d'água dentro de um reator em alta temperatura, formando hidrogênio (H2) e monóxido de carbono (CO). Em seguida para melhorar a produção de hidrogênio no processo, mais uma descoberta é adicionada onde o monóxido de carbono reage com vapor e forma dióxido de carbono (CO2), dessa forma se torna mais eficaz a etapa final de separação onde os gases misturados são separados e o hidrogênio puro é armazenado. Atualmente, esta é a forma mais comum de produção de hidrogênio no mundo, mas não há captura dos gases de efeito estufa produzidos no processo, apesar de uma parte desses gases serem reutilizados para o processo de aquecimento. É conhecido como “gás descarbonizado” ou “gás de baixo carbono” e é considerado por alguns como uma fonte de energia limpa. Há controvérsias nessa consideração, pois as tecnologias de captura e armazenamento de carbono nem sempre estão livres de problemas ambientais.

Esse proteção em específico é produzida a partir de combustíveis fósseis e gás natural (geralmente pelo método de reforma), porém nesse caso acontece também o método de CCUS (captura, utilização e sequestro de carbono).

O processo de CCUS consiste no armazenamento do carbono por meio de líquidos com encontros específicos que, depois de um aquecimento, liberam o gás; ou simplesmente existe uma captura do gás carbônico (CO2) diretamente. Em ambos os casos, o CO2 é transportado por meio de dutos até bolsões de armazenamento enterrados (“enterrados”) ou armazenados para transporte. Algumas indústrias fazem uso desse gás, como a indústria de fertilizantes, a química e a indústria de metanol combustível.


Hidrogênio Rosa


O Hidrogênio Rosa é produzido a partir da eletrólise da água com o uso de energia nuclear. A Eletrólise da água é a otimização química da água (H2O) gerando os produtos oxigênio (O2) e hidrogênio (H2), através da aplicação de uma corrente elétrica (energia) na água. Nesse caso em específico, a corrente elétrica vem da energia de reatores nucleares.

Reatores nucleares são termoelétricos, ou seja, unidades que geram energia a partir do aquecimento de água, mas que utilizam a alta energia resultante de reações que atingem nossos núcleos de átomos como fonte de energia para esse aquecimento. Existem duas formas de se produzir energia nuclear, através da fissão ou da fusão nuclear. Hoje apenas a fissão nuclear é comercialmente aplicável, geralmente utilizando átomos de radioativos de Urânio. Existem pesquisas para tornar a fusão nuclear comercialmente viável, sendo que em 2022 foi a primeira vez na história que foi possível alcançar um balanço energético positivo nesse processo. Esse tipo de energia pode ter diversas aplicações, sendo principalmente a geração de energia elétrica.

O urânio por sua vez é um recurso finito, apesar de existirem grandes reservas deste material, o que significa que o hidrogênio oriundo desta fonte energética não é renovável. Apesar do ponto positivo de não produzir gases poluentes da atmosfera, ainda existem grandes riscos, tanto do lixo radioativo gerado pelo processo de fissão, que é prejudicial à natureza, quanto da periculosidade que uma usina deste setor traz consigo (por exemplo, risco de vazamentos). Caso, no futuro, a fusão nuclear se torne viável, esses problemas não existirão.


Hidrogênio Turquesa


Produzido através da pirolise do metano do gás natural, sendo ele mesmo utilizado como fonte de energia para o processo térmico. Tem como resíduo o carbono sólido (carvão), sendo considerado por isso como uma produção livre de emissões.

O Hidrogênio Turquesa surge com a entrada do metano (CH4) em um reator aquecido a mais de 1000ºC (celsius), que funciona através da utilização de energia proveniente de fontes renováveis. Mais adiante, dentro do reator, ocorre a pirólise (divisão por calor) do metano, resultando em Carbono sólido, ou carvão, (C) e Hidrogênio (H2). Na última etapa, o hidrogênio em forma de gás é coletado na parte superior do reator e o segundo produto (Carvão) sai pela parte de baixo do reator em forma sólida, tornando mais simples seu armazenamento. Alguns especialistas chamam esse hidrogênio de “hidrogênio de baixa emissão de carbono”.


Hidrogênio Amarelo


Produzido por eletrólise da água com a energia para realizar o processo proveniente de qualquer fonte disponível.

Assim como o Hidrogênio Rosa, o Hidrogênio Amarelo também é produzido a partir da eletrólise da água com o uso de energia elétrica. O diferencial dessa coloração de H2 é a fonte de energia usada na eletrólise, ou na realidade “as fontes de energia”, afinal esse hidrogênio é produzido com uma mistura de energias de fontes como renováveis e de combustíveis fósseis, não sendo possível rastrear a origem da energia utilizada. Essa energia vem das redes do Sistema Interligado Nacional, que é abastecida por diversos tipos de fontes energéticas. Portanto, esse tipo de hidrogênio não é considerado limpo e renovável.


Hidrogênio Branco


Este tipo de hidrogênio é encontrado em sua forma natural, como um gás livre, seja em camadas da crosta continental (bolsões de gases), no fundo da crosta oceânica, em gases vulcânicos, em gêiseres ou em sistemas hidrotermais. O hidrogênio Natural/Branco está presente numa ampla gama de formações rochosas e regiões geológicas. Ele surge de uma variedade de fontes naturais como, de origem diagenética (oxidação do ferro) nas bacias sedimentares, da radiólise (eletrólise natural) ou da atividade bacteriana, também de fontes hiperalcalinas que contém emissões de dihidrogênio (2H2), entre outras formas. Mas, atualmente, não existem muitas estratégias e planos para explorar esse tipo de hidrogênio, pois os outros “núcleos” são muito mais vantajosos e práticas de serem adquiridos e utilizados.


Hidrogênio Musgo


O processo de gaseificação, no caso da biomassa, ocorre em 4 etapas: a primeira é a seca, na qual a biomassa perde a água retida; na segunda etapa é utilizada a pirólise para iniciar a instalação da biomassa e prepará-la para a próxima etapa; na terceira etapa ocorre a combustão desse produto; e na quarta etapa ocorre a redução do material onde o carbono e os hidrocarbonetos dos combustíveis usados reagem parcialmente com o oxigênio e geram o monóxido de carbono (CO), que é altamente nocivo, e o gás hidrogênio (H2). Este processo ocorre em temperaturas altíssimas, a partir de 900°C.

Essa mistura de gases, produzida na quarta etapa, pode ser posteriormente convertida para nada além de hidrogênio e dióxido de carbono (CO2), adicionando vapor e reagindo sobre um encontrado em um reator de colocação de gás de água, facilitando a utilização da tecnologia de CCUS, caso ela seja incluída no processo.


Hidrogênio Verde


Produzido também a partir da eletrólise da água com o uso de energia elétrica, assim como o Rosa e o Amarelo. Neste caso, a empregada de eletricidade no processo deve ser aconselhada necessariamente de fontes renováveis não emissoras de GEEs, principalmente hídrica, eólica e solar. É uma alternativa de produção de hidrogênio mais limpa, por ser livre de emissões de gases de efeito estufa (GEE), e assim tem recebido um forte apoio dos governos e das empresas de todo o mundo. Navios.

Ainda há um longo caminho a ser percorrido, visto que o hidrogênio verde, atualmente, representa uma pequena porcentagem do mercado de hidrogênio global e ainda não é economicamente viável. Porém, um exemplo do que ocorreu com a introdução das fontes de energia renováveis nas matrizes energéticas, a tendência é que o custo de produção do hidrogênio verde se reduza à medida que ele ganhe economia de escala e se torne um processo mais seguro e maduro do ponto de vista tecnológico e financeiro.