Há uma década, o comissionamento ainda era um processo obscuro ligado à ativação de grandes máquinas. Os profissionais especializados nessa área trabalhavam quase exclusivamente nas linhas de produção das fábricas, especialmente no setor farmacêutico.
Nos últimos anos, as construções têm se tornado mais complexas. Ao incorporarem automações de alta tecnologia e sistemas interligados visando fornecer maiores níveis de conforto, qualidade ambiental e eficiência de recursos.
As habilidades das equipes de projeto, instalação e operação nem sempre acompanham a complexidade das tecnologias instaladas nos edifícios mais modernos. Isso cria o chamado performance gap (em português “lacuna de desempenho”), em que prédios sustentáveis e certificados consomem muito mais energia do que deveriam. Estudos agregados sugerem que, ao redor do mundo, o gap representa consumo médio 37% maior em prédios reais e mensurados do que nos modelos usados para prever seu desempenho, que consideram a operação correta e servem para receber os certificados de sustentabilidade. Projetos como o CarbonBuzz investigam isso, e têm mostrado várias razões para o performance gap. Muitas delas estão ligadas à qualidade de instalação, defeitos de projeto e estratégias operacionais na construção.
O comissionamento em edifícios é um procedimento baseado em qualidade, que se desenvolveu rapidamente nos últimos anos pois os proprietários de edifícios reconheceram a necessidade de garantir o desempenho de suas construções. Com o aumento do número de edifícios sustentáveis e a necessidade de demonstrar bom desempenho operacional (não apenas um certificado de sustentabilidade no estágio de projeto), ele se torna parte essencial de projetos para novas construções e retrofits.
Quando fazer o comissionamento do edifício
Um agente de comissionamento deve ser contratado na primeira fase do novo projeto, e trabalhar como agente técnico. O papel desse profissional é garantir que, no final, o edifício esteja de acordo com as necessidades do cliente. Isso é feito ao manter uma cópia dos requisitos iniciais, registrar as estratégias de projeto adotadas e rever as fases de projeto detalhado e construção para aprovar mudanças, identificar as inconformidades e ajudar a resolver problemas. O agente de comissionamento irá assegurar que a documentação necessária seja providenciada pelos projetistas e instaladores, para que os sistemas sejam propriamente programados, mantidos e operados.
Durante os últimos estágios de construção, os projetos normalmente sofrem com deadlines apertados e excesso de custos; o empreiteiro e as equipes de instalação não veem a hora de sair do canteiro de obras. Nessa fase é essencial que o agente de comissionamento participe da ativação, programação e avaliação final de equipamentos. O agente realizará testes de desempenho em uma amostra de sistemas da construção, antes que o cliente encerre o projeto.
Na Mitsidi, nós quase sempre descobrimos problemas sérios nos estágios finais de projetos de construção. Sejam sistemas de ar condicionado testados inapropriadamente, iluminação com zonas separadas de maneira incorreta ou fornecimento de ar externo filtrado inadequadamente, é vital que esses problemas sejam reparados o mais rápido possível, para que sejam resolvidos sem custo adicional ou atrasos.
Comissionamento no Brasil
No Brasil, o comissionamento é altamente embasado nos requisitos para certificação LEED. Apesar disso, a maior parte do nosso trabalho vem de proprietários-operadores que não buscam nenhuma certificação. O intuito geralmente é garantir o desempenho operacional de seus edifícios.
Em muitos casos, nosso trabalho de comissionamento tem evitado a necessidade de retrofits caros em projetos recém-construídos. Ao identificar esses problemas cedo, podemos resolvê-los no canteiro de obras.
Nós da Mitsidi vemos isso como parte do procedimento de projeto integrado. Fornecemos consultoria energética no estágio de projeto e garantimos o desempenho ao seguir todo o processo de comissionamento. Veja um exemplo aqui.
Conclusão
O comissionamento é uma decisão orientada pela questão financeira. A energia consumida no edifício é uma das maiores despesas operacionais. Qualquer construção que não atinja os padrões de qualidade ambiental limitará severamente a produtividade de seus ocupantes. Além disso, poderá gerar multas.
É fácil e barato tornar um edifício mais eficiente e sustentável com pequenas alterações nos estágios de construção e projeto. Isso, entretanto, torna-se muito mais caro nas outras fases futuras.