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“O mercado livre e a eficiência energética se complementam. Enquanto o primeiro reduz o preço do kWh, o segundo reduz a quantidade de energia comprada”, afirmam especialistas.

Atualmente, a migração para o mercado livre é vista como uma forma atraente de reduzir os custos de energia. Desde 1995, quando foi criado, até os dias de hoje, a adesão dos grandes consumidores – indústrias, shoppings, varejos, grandes edifícios comerciais – ao sistema livre de compra e venda de energia elétrica só tem crescido.

Segundo a ABRACEEL, Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia Elétrica, mais de 60% da energia comprada pelas indústrias é negociada no ambiente de contratação livre (ACL). Em 2015, mais de 700 companhias industriais passaram a negociar diretamente a compra de eletricidade. Hoje, cerca de 4000 empresas estão no mercado livre, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Há ainda mais 1000 empresas em processo de migração,

A razão para isso é simples. Como a contratação é feita diretamente entre consumidores e produtoras de energia, é possível negociar tarifas menores e previsíveis, reduzindo o custo por kWh e a exposição ao risco.

Em muitos casos é aplicado um desconto sobre outros componentes que compõem a conta de energia, tais como a Demanda e o TUSD (Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição), reduzindo ainda mais a fatura.

O contrato no ACL é complexo e traz custos adicionais que precisam ser estudados e conhecidos como explicaremos em outra matéria. Segundo a ABRACEEL, com o mercado livre é possível chegar a até 47% em relação ao mercado cativo.

Sabe-se que o consumo de energia é um dos recursos mais custosos para a indústria e muitas grandes empresas. Por isso, quem consegue comprá-la por um preço mais baixo e utilizá-la de maneira mais eficaz adquire uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes.

Entretanto, apesar de ser uma excelente alternativa para redução de custos, esse sistema nada tem a ver com o uso eficiente da energia: mesmo que haja economia na conta no fim do mês, ela é apenas em função da diminuição do valor da tarifa final.

Eficiência energética + redução do custo do kWh = Economia²

A diminuição do custo do kWh já pode ser considerada uma grande vitória para empresas inseridas no mercado livre. Mas é possível alcançar resultados ainda mais expressivos ao reduzir o consumo efetivo. Para isso, deve-se ter um plano de gestão de energia, que foca em oportunidades de redução do consumo energético.

Tipicamente, empresas e indústrias avaliam primeiramente opções de retrofit de equipamentos. Dentre eles se encaixam sistemas de iluminação mais eficientes, motores mais modernos, etc.

Todas essas medidas são válidas, mas são em geral custosas e demandam investimentos. Há muitas oportunidades de baixo custo que contribuem para a eficiência energética e que são na maioria das vezes negligenciadas. Medidas como alterações de procedimentos operacionais, melhorias nos sistemas de automação, manutenção de componentes defeituosos, reaproveitamento de energia rejeitada normalmente geram economia significativa com investimentos pequenos. Contar com uma equipe de gestão energética bem treinada é também uma ação importante, ainda pouco aplicada no Brasil.

Apesar de parecerem simples, frequentemente essas oportunidades passam despercebidas no dia-a-dia. Ou até são notadas, mas não são implantadas por falta de tempo e de pessoal. Por isso, há especialistas e empresas de consultoria energética cujo objetivo é implantar sistemas de gestão de energia e auxiliar na identificação e implantação de projetos de eficiência.

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A ordem dos fatores altera o produto

Suponhamos que alguém comece a fazer uma dieta e no mesmo dia encontre uma loja de roupas com preços ótimos. É melhor esperar a dieta fazer efeito para poder comprar um tamanho menor, certo? Caso contrário, ela terá comprado uma roupa barata mas terá sido um desperdício pois a roupa ficará grande demais.

Podemos fazer um paralelo à migração para o mercado livre. A maioria dos contratos conta com uma cláusula conhecida como take or pay. Nela, o contratante fica obrigado a pagar por uma quantidade mínima de energia.

Na prática isso significa que, se a empresa reduz seu consumo após assinatura do contrato, ela pode não ter uma redução de custos correspondente. Dessa forma, terá “desperdiçado” a chance de fazer uma excelente compra.

Por esse motivo, através de projetos de otimização de energia, a eficiência deve vir primeiro. Depois que boa parte do potencial de economia for alcançado, vale a pena voltar à mesa de negociação para migrar para o mercado livre. Assim, será possível negociar um contrato muito mais vantajoso, que permitirá o aproveitamento financeiro de toda a economia energética obtida.

Desta forma, a migração para o mercado livre e a gestão de energia podem “andar de mãos dadas”. Ambas podem reduzir custo e consumo de energia, desde que sejam feitas na ordem certa. Primeiro, implantar ações de eficiência energética, e então avaliar a contratação no mercado livre.

Eficiência Energética

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